terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Portugal: Tribunal diz que mãe instrumentalizou menina para acusar pai de abuso sexual

Por Samuel Silva
Síndrome de alienação parental motiva entrega da custódia ao pai. Há cada vez mais casos como este a serem julgados nos tribunais portugueses

O Tribunal de Barcelos decidiu entregar a custódia de uma criança de sete anos ao pai desta, depois de não ter provado as acusações de abuso sexual que recaíam sobre o progenitor. A decisão judicial considera que a mãe instrumentalizou a menor de modo a que esta fizesse as acusações. Este fenómeno, conhecido como síndrome de alienação parental, é cada vez mais comum nos casos de disputa da guarda de menores.

O caso foi acompanhado por especialistas das Universidades do Minho e do Porto e os seis relatórios psicológicos são unânimes em reconhecer um processo de "parentalização da menor" por parte da mãe, impelindo-a a acusar o pai de abusos sexuais. "A pressão psicológica a que a menor vem sendo sujeita resulta evidente, clara e cristalina de todos os relatórios", afirma a sentença do Tribunal de Barcelos a que o PÚBLICO teve acesso.

"Ao longo deste processo, a menor vem sendo sujeita a instrumentalização por parte da progenitora no sentido de a mesma rejeitar os contactos com o pai e restantes membros da família paterna, nomeadamente sugestionando-a para imposição de falar de alegados abusos perpetrados pelo pai e de não manifestar sentimentos positivos em relação a este", refere a decisão judicial.

A síndrome de alienação parental é um fenómeno definido pela primeira vez há 25 anos na Universidade de Colúmbia, nos EUA, e tem vindo a merecer maior atenção por parte dos tribunais nos últimos anos. "A sua primeira manifestação é uma campanha de difamação contra um dos progenitores por parte da criança, campanha que não tem justificação", define o psicólogo espanhol José Manuel Aguilar, professor convidado no Centro de Estudos Judiciários, num livro publicado em 2008. O especialista compara o processo a uma "lavagem cerebral", que se manifesta também num exponencial aumento de falsas denúncias de abusos sexuais a menores, conhecido como efeito de Cassandra.

Apesar de reconhecer que a criança "mantém uma relação de dependência afectiva com a mãe e de forte cumplicidade com a avó materna", o tribunal entendeu que devia entregar o poder parental ao pai, considerando que a manutenção da condição actual, com a menina a viver na casa da família materna, "colocaria seriamente em risco a estabilidade emocional" da criança. A decisão do tribunal de Barcelos obriga ainda a mãe da menina de sete anos a pagar uma pensão de alimentos de 450 euros mensais.

A decisão judicial aponta várias incongruências nos relatos da mãe e de algumas testemunhas relativas aos alegados abusos e releva ainda o facto de o relato da menor ter sido feito através de "expressões estandardizadas", que foram "repetidas de forma sistemática e descontextualizada". O juiz de Barcelos sublinha ainda que o testemunho da criança "não teve concordância com a expressão comportamental ou emocional". Apesar de considerar "extremamente difícil" apurar da veracidade dos factos, a sentença afiança que as provas existentes "apontam no sentido de efectivamente não terem ocorrido quaisquer abusos".

Face à decisão judicial, a criança devia ter sido entregue ao pai, mas uma manifestação dos habitantes da aldeia de Carvalhas, no concelho de Barcelos, onde a menor vive, acabou por impedi-lo. A família materna da menor vai agora interpor recurso desta decisão judicial. "Vamos levar isto às últimas consequências e, se necessário for, recorreremos a tribunais internacionais", avança a avó, Zulmira C. "Não acredito naquilo que o tribunal escreve na sentença. A minha neta foi criada comigo e aos três anos de idade uma criança não mente", explica. Uma vigília feita por habitantes da aldeia de Carvalhas no domingo impediu que a criança fosse entregue ao pai, tal como estava acordado. A menina mantém-se à guarda da mãe, que a terá levado ao médico ontem. A GNR tentou durante o todo o dia contactar a família materna da criança para fazer cumprir a ordem judicial. A mãe, Cristina C., recusa-se a entregar a filha às autoridades policiais. "Não admito que ela passe por um episódio de violência como esse", afirmou ao PÚBLICO, garantindo, no entanto, a intenção de cumprir a decisão do tribunal.

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