domingo, 1 de agosto de 2010

Distância Forçada - Correio Braziliense

PAIS E FILHOS »Distância forçadaEspécie de campanha desmoralizadora movida por um dos genitores, a alienação parental causa silenciosamente sofrimento a todas as partes envolvidas


Maria Fernanda Seixas
Publicação: 30/07/2010 18:19 Atualização: 31/07/2010 20:31

O servidor público Carlos Dias Lopes, fundador da associação ParticiPais - (Gustavo Moreno/CB/D.A Press)
O servidor público Carlos Dias Lopes, fundador da associação ParticiPais
Se a luta feminista é hoje lembrada como uma das grandes conquistas sociais do século passado, outra importante mudança de costumes permanece à sombra da História: a crescente participação do homem na vida familiar. Consequência ou não da entrada delas no mercado de trabalho, eles se aproximaram do lar e da criação dos filhos e, hoje, buscam direitos igualitários como genitores.

No Brasil, um exemplo disso foram as vitórias alcançadas pelas associações de pais em duas matérias: a aprovação dos projetos de leis da guarda compartilhada e da alienação parental. Porém, enquanto o primeiro tema é ponto pacífico, o segundo se encontra em meio ao fogo cruzado da opinião pública — por puro desconhecimento de causa.

A chamada síndrome da alienação parental se configura quando um dos genitores manipula a criança para que rompa o vínculo afetivo com o outro genitor. São casos de mães ou pais que, por meio de estímulos negativos, convencem o menor de que ele não é amado por uma das partes — e que, portanto, deve se afastar. Muitas vezes, esse tipo de comportamento envereda para a calúnia, chegando ao limite de falsas acusações de violência e abuso. Confusa, a criança envolvida na campanha de desmoralização passa a aceitar como verdadeiro o que lhe é informado e, progressivamente, cria aversão pela parte criticada.

A partir daí, o alienador assume o controle da situação, enquanto o outro é tido como um invasor, “um intruso a ser afastado a qualquer preço”, como afirma a desembargadora Maria Berenice Dias, vice-presidente nacional do Instituto Brasileiro de Direito de Família, do qual é uma das fundadoras, e autora do livro Manual do direito das famílias. O jogo de manipulações leva a criança a perder por completo o contato com a figura alienada e pode ter consequências perigosas para a formação de sua personalidade.

O advento da nova lei permite a punição daquele que, comprovadamente, dificultar o acesso físico ou emocional à criança. Segundo o presidente da Associação de pais e filhos separados (Ong Asspociação de Pais e Mães Separados), A. Rodrigues, as sanções variam de acordo com o caso e vão de simples advertências judiciais até revisão no direito de guarda do menor. “Inicialmente, tem mais caráter pedagógico do que punitivo. Mas acredito que a possibilidade da inversão da guarda vá coibir a prática”, analisa Maria Berenice Dias.

A complexidade dos casos, contudo, limita a atuação da Justiça. Os juízes tradicionalmente demonstram cautela quando as acusações envolvem, por exemplo, suspeita de abuso sexual. O processo muitas vezes acaba emperrando devido à falta de provas. “Lembro de um pai que foi acusado pela ex-mulher de introduzir um prego no ânus do filho. Ele era um homem sério, um profissional gabaritado. Ele não tinha como provar que jamais praticou tal ato. Mas não pode mais ver o filho. As falsas acusações de abuso sexual são muito sérias e destroem tanto a vida do pai quanto a do filho, que nunca saberá o que realmente aconteceu”, lamenta.

Pais unidos
Após um divórcio doloroso e o afastamento da rotina e vida do filho, o qual só podia encontrar em intervalos quinzenais, o servidor público Carlos Dias Lopes, autor do livro Pais que querem ser pais, se uniu, em 2002, com outros cinco pais divorciados e, juntos, formaram a associação ParticiPais. “Rapidamente surgiram homens de todos os lados buscando ajuda e informação. Em oito anos, acho que atendemos mais de 3 mil pais e também mães separadas. Os problemas eram sempre muito parecidos. De pais que queriam participar mais da vida dos filhos, como eu, aos que eram vítimas da alienação parental”, indica. Para Carlos, é importante que ambos genitores conheçam seus direitos e deveres em uma separação, especialmente quando existem filhos envolvidos. Assim como a ParticiPais, de Brasília, outras associações Brasil afora apóiam a família nesse momento, com trocas de informações e relatos. Entre as mais conhecidas estão o grupo virtual Pai Legal, o movimento mineiro Pais para sempre, a Apase e o Pais por justiça, que surgiu em uma comunidade do site de relacionamentos Orkut.

Saiba mais
Para ver: A morte inventada, de Alan Minas
Para ler: Pais que querem ser pais, Carlos Dias Lopes

Um comentário:

Anônimo disse...

"Inicialmente, tem mais caráter pedagógico do que punitivo. Mas acredito que a possibilidade da inversão da guarda vá coibir a prática”
Daí se o genitor alienado não tem condições de obter a guarda por motivos financeiros, como exemplo, nada acontece?
Por que não a cadeia para o genitor alienador, assim como acontece quando um pai deixa de pagar pensão? Multas e indenizações pesadas?
Pedagogia não supre momentos únicos perdidos, que nunca mais poderão ser repostos, por pais e filhos separados forçosamente!