Influenciar a criança contra um dos genitores pode deixar marcas para sempre
A separação e o divórcio entre um casal são situações que podem provocar grandes conflitos e trazer graves consequências quando há filhos pequenos envolvidos. O resultado é ainda mais desastroso quando um dos dois resolve usar a criança contra o outro. É a chamada Síndrome da Alienação Parental.
O termo ainda é recente no Brasil, mas o comportamento é antigo. Com o fim do casamento, os filhos ficam com aquele que obtém a guarda. Este genitor passa a misturar a mágoa que ficou do outro e a transmitir ao filho a raiva que restou do fim do relacionamento, desestruturando a relação entre filho e pai/mãe com o ex-cônjuge.
De acordo com a psicoterapeuta Fernanda Brandão, as demonstrações de alienação parental podem ser das mais variadas. “Pode ser algo simples, como não repassar recados ou telefonemas aos filhos, até tomar decisões que dizem respeito a eles sem o consentimento da outra parte”, exemplifica.
A síndrome é mais frequente entre as mulheres, mas também pode se manifestar nos homens. “É mais comum acontecer com as mães, não por serem mulheres, mas porque na maioria dos casos são elas que têm a guarda dos filhos”, explica Fernanda.
Segundo ela, o sentimento de posse, o desejo de vingança e a frustração são os grandes responsáveis por desencadear o processo de desmoralização do ex-parceiro. “Aquele que provoca a alienação muitas vezes usa de mentiras, chantagens, memórias de fatos que não existiram e boicotes para ter a preferência do filho”, acrescenta.
Por atitudes assim, tem criança que acaba nunca convivendo com o pai porque a mãe a fez odiá-lo. Pior ainda é quando o comportamento de um é repetido pelo outro. “Tem casos em que a criança vira um cabo-de-guerra porque a mãe tenta colocá-la contra o pai e vice-versa. A criança se sente culpada por ter que escolher entre gostar de um ou de outro”, explica a psicoterapeuta.
Esse comportamento provoca marcas que podem durar por toda a vida dos filhos. “Crianças ainda não são aptas a fazer suas escolhas. Essa manipulação prejudica a formação da identidade delas; elas se tornam propensas a serem usuários de drogas, a terem depressão, crises de pânico e transtornos de personalidade, entre outros problemas graves”, revela Fernanda.
Para a psicóloga do Hospital Universitário, Ana Lilian Parrelli, todo mundo sai perdendo desses conflitos, mas a criança é a mais prejudicada. “As consequências vão ficar pra toda a vida e refletir nos futuros relacionamentos dessa criança”, explica.
Independente de o relacionamento entre o casal não ter dado certo, a criança precisa ter a figura do pai e da mãe. “Pai e mãe são veículos de valor e uma das coisas que mais assola o psiquismo da criança é a destruição desses veículos”, explica a psicóloga. Por isso, segundo ela, o pai pode não valer nada na opinião da mãe, mas a criança precisa descobrir isso por si mesma.
Câmara quer tornar crime a prática da alienação parental
A alienação parental infringe o direito de amar daquele que não detém a guarda dos filhos e o direito da criança de ser amada. Mas um projeto de lei que circula na Câmara de Deputados Federal pretende tornar crime a prática de alienação parental.
De acordo com esse projeto de lei, o genitor que tentar afastar o filho do ex-parceiro pode sofrer desde advertências e multas até perder a guarda da criança e, se descumprir mandados judiciais, ser condenado a até dois anos de prisão.
Para a psicoterapeuta Fernanda Brandão, o projeto de lei é de extrema relevância. “Um bom convívio familiar é muito importante para a formação da personalidade da criança”, explica.
Em alguns lugares da Europa e dos Estados Unidos, quem comete esse tipo de prática perde automaticamente a guarda dos filhos. No Brasil, são raros os casos em que há algum tipo de punição.
Segundo o projeto, a Justiça determinará que uma equipe multidisciplinar, formada por educadores e psicólogos, ouça familiares, testemunhas e a própria criança ou adolescente, após denúncia de alienação parental.
O projeto ainda precisa ser aprovado pela Câmara, passar pelo Senado e ter o aval do Presidente da República para entrar em vigor.
Agressões atingem 20 mi de crianças
Estatísticas sobre a Síndrome da Alienação Parental mostram que 80% dos filhos de pais divorciados já sofreram algum tipo de alienação parental e que cerca de 20 milhões de crianças já sofreram esse tipo de agressão.
Para evitar o aumento desses números, a psicóloga Ana Lilian Parrelli aconselha que os pais prestem atenção em tudo o que é dito na frente das crianças. “Muitos pais tendem a acreditar que elas não percebem o que acontece ao seu redor. Mas a percepção das crianças vai muito além do que se fala para ela”, garante.
Evitar discussões na frente das crianças, ser o mais transparente possível em relação ao ex-parceiro, não boicotar os programas que são feitos entre os filhos e o genitor são atitudes que podem evitar a alienação.
Em último caso, buscar auxílio psicológico e jurídico para tratar o problema o mais rápido possível pode resolver a situação. E, por mais que a outra pessoa crie impedimentos, é importante não se afastar. “O filho não tem que escolher entre um lado ou outro. Se uma mulher foi traída por um homem, o filho não tem nada com isso. Ele não foi traído, é uma questão apenas do casal”, conclui Ana Lilian.
Serviço: Ana Lilian Parrelli – 3371-5711 (Hospital de Clínicas) Fernanda Brandão – 3325-0005
Um comentário:
Quero manifestar meu apoio ao Grupo Pais por Justiça, o trabalho que vo^cês fazem são poucos os que fazem igual
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